Mais uma resenha de uma obra nacionalíssima e, dessa vez, trazendo uma leitura bastante diferente do habitual. Que Raphael Montes é um autor fenomenal, sabemos devido ao grande reconhecimento por suas obras como "Dias perfeitos" e "Suicidas".
Em "Jantar secreto", o autor faz uma grande surpresa trabalhando um tema bem polêmico: antropofagia, também conhecida como canibalismo.
Resenha:
Um livro que trabalha com uma ética contestável e a falsa moral.
Dante, Miguel, Hugo e Leitão são quatro amigos que se mudaram para o Rio de Janeiro com a intenção de, não só fazer a faculdade, como também ganhar a vida bem longe de Pingo D'Água, sua pequena cidade natal.
Após cinco anos morando na metrópole, Dante percebe que a cidade não é exatamente a maravilha retratada nas novelas e a crise do país não ajuda em nada.
Apesar do diploma de Administração, Dante trabalha como livreiro. Miguel se desdobra para conseguir se manter firme no hospital no qual faz estágio. Hugo, com seu ego enorme, coloca tudo a perder pelas cozinhas dos restaurantes por onde passa, mesmo tendo talentos culinários. O quarto amigo sequer chegou a terminar a faculdade.
No dia do aniversário de Leitão, os amigos resolvem contratar uma garota de programa como presente, contudo a missão de encontrá-la pode parecer um tanto mais complicada, em especial para um cliente obeso que nunca sai do quarto, vivendo de golpes virtuais e muito pornô e videogame.
És que aparece Cora, outra personagem vinda para a cidade grande e um tanto desiludida com a ideia de fama, mantendo sempre o sonho de um dia conseguir publicar seus poemas. Seu surgimento é, sem dúvidas, fundamental para o que vem a seguir, variando perfeitamente de um bom presente para o fio de escape de enorme pesadelo.
As coisas ficam críticas quando o corretor de imóveis liga para Dante falando sobre estarem devendo seis meses de aluguel, um valor exorbitante para quatro amigos que não tinham chegado nem perto do emprego que sonhavam após se formar.
"A ideia do fundo do poço é um tanto consoladora. Quando você acha que chegou lá, só pode subir. Acontece que no fundo não existe, sempre pode ser pior."
Momentos de crise pedem medidas desesperadas. Com percepção de estarem no fundo do poço, Hugo sugere realizarem um Jantar Secreto, onde pessoas da alta sociedade pagariam para ter uma noite de prazeres no paladar numa casa qualquer da Cidade Maravilhosa.
Uma brincadeirinha de mau gosto rende, do dia para noite, exatos trinta mil reais para os quatro amigos, dinheiro suficiente para pagar a dívida e sobrar. Contudo, há uma condição: a carne a ser desfrutada seria, nada mais, nada menos, que humana.
Com uma escrita intrigante, pretenciosa, fluída e crítica, "Jantar secreto" traz a tona as faces mais sombrias e corruptas do próprio homem e deixa evidente o modo como as pessoas vem se destruindo. Personagens repulsivos e uma leitura viciante. Uma boa dose da realidade que negamos enxergar.
Foi o primeiro livro do autor que tive oportunidade de ler e não me decepcionei. Muito pelo contrário! Raphael Montes conseguiu mudar totalmente a ideia que eu havia criado em minha mente ao descobrir a temática do livro.
Uma leitura verdadeiramente rápida e questionadora quanto aos diversos valores, indo desde exemplificações comprovadas como comparações reflexivas que, apesar de desumanas, em certas ocasiões, não deixam de ser bastante lógicas. Cruéis com pitada de razão.
Fixando-se na mente do leitor com o Enigma da Carne de Gaivota e se estendendo com inúmeros dobramentos de um problema agravante, o livro consegue finalizar (ou quando se espera estar finalizado) com uma grande reviravolta, inesperada e crucial para montar totalmente o quebra-cabeça formado pela história, o qual se revela ainda maior do que o esperado. Ótima leitura, sem sombra de dúvidas.
Nota (4,5/5): 🌟🌟🌟🌟
Título: Jantar secreto
Autor: Raphael Montes
Páginas: 360
"A possibilidade foi se assentando na minha cabeça, ganhando contornos menos perigosos, como uma mentira contada muitas vezes que vai tomando o lugar da verdade."
Resenha:
Um livro que trabalha com uma ética contestável e a falsa moral.
Dante, Miguel, Hugo e Leitão são quatro amigos que se mudaram para o Rio de Janeiro com a intenção de, não só fazer a faculdade, como também ganhar a vida bem longe de Pingo D'Água, sua pequena cidade natal.
Após cinco anos morando na metrópole, Dante percebe que a cidade não é exatamente a maravilha retratada nas novelas e a crise do país não ajuda em nada.
Apesar do diploma de Administração, Dante trabalha como livreiro. Miguel se desdobra para conseguir se manter firme no hospital no qual faz estágio. Hugo, com seu ego enorme, coloca tudo a perder pelas cozinhas dos restaurantes por onde passa, mesmo tendo talentos culinários. O quarto amigo sequer chegou a terminar a faculdade.
No dia do aniversário de Leitão, os amigos resolvem contratar uma garota de programa como presente, contudo a missão de encontrá-la pode parecer um tanto mais complicada, em especial para um cliente obeso que nunca sai do quarto, vivendo de golpes virtuais e muito pornô e videogame.
És que aparece Cora, outra personagem vinda para a cidade grande e um tanto desiludida com a ideia de fama, mantendo sempre o sonho de um dia conseguir publicar seus poemas. Seu surgimento é, sem dúvidas, fundamental para o que vem a seguir, variando perfeitamente de um bom presente para o fio de escape de enorme pesadelo.
As coisas ficam críticas quando o corretor de imóveis liga para Dante falando sobre estarem devendo seis meses de aluguel, um valor exorbitante para quatro amigos que não tinham chegado nem perto do emprego que sonhavam após se formar.
"A ideia do fundo do poço é um tanto consoladora. Quando você acha que chegou lá, só pode subir. Acontece que no fundo não existe, sempre pode ser pior."
Momentos de crise pedem medidas desesperadas. Com percepção de estarem no fundo do poço, Hugo sugere realizarem um Jantar Secreto, onde pessoas da alta sociedade pagariam para ter uma noite de prazeres no paladar numa casa qualquer da Cidade Maravilhosa.
Uma brincadeirinha de mau gosto rende, do dia para noite, exatos trinta mil reais para os quatro amigos, dinheiro suficiente para pagar a dívida e sobrar. Contudo, há uma condição: a carne a ser desfrutada seria, nada mais, nada menos, que humana.
Com uma escrita intrigante, pretenciosa, fluída e crítica, "Jantar secreto" traz a tona as faces mais sombrias e corruptas do próprio homem e deixa evidente o modo como as pessoas vem se destruindo. Personagens repulsivos e uma leitura viciante. Uma boa dose da realidade que negamos enxergar.
Foi o primeiro livro do autor que tive oportunidade de ler e não me decepcionei. Muito pelo contrário! Raphael Montes conseguiu mudar totalmente a ideia que eu havia criado em minha mente ao descobrir a temática do livro.
Uma leitura verdadeiramente rápida e questionadora quanto aos diversos valores, indo desde exemplificações comprovadas como comparações reflexivas que, apesar de desumanas, em certas ocasiões, não deixam de ser bastante lógicas. Cruéis com pitada de razão.
Fixando-se na mente do leitor com o Enigma da Carne de Gaivota e se estendendo com inúmeros dobramentos de um problema agravante, o livro consegue finalizar (ou quando se espera estar finalizado) com uma grande reviravolta, inesperada e crucial para montar totalmente o quebra-cabeça formado pela história, o qual se revela ainda maior do que o esperado. Ótima leitura, sem sombra de dúvidas.
Nota (4,5/5): 🌟🌟🌟🌟
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